segunda-feira, 12 de setembro de 2011

É o outro...

...Com suas imperfeições e estranhamentos, que reanima a minha existência.


Os amigos são assim. Constroem com a gente o que é da gente, e por isso têm o direito e o dever de usufruir. E há retribuição, mesmo que diferente, porque o amor não se repete. E quem ama se surpreende quando é amado, porque não cobra nem espera recompensa. É esse o segredo do altruísmo, que vence a vaidade da idade que vai e conquista a temperança da essência que fica. O tempo é como o rio que inexoravelmente ruma ao mar. E o rio às vezes frequenta cenários deslumbrantes e não pode parar, nem assim, para contempla-los melhor; outras vezes penetra em paragens desconcertantes, incomodativas, e tem de percorrê-las sem o poder da pressa. É o curso. É o tempo. Penoso e feliz. Desconhecido. O dia é uma página em brando que escrevemos. E o outro dia haverá de vir com a mesma fome de palavras, de atitudes. O medo não pode nos roubar a tinta.

Gabriel Chalita no livro "Carta entre amigos, sobre medos contemporâneos"
Pag. 120

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