sábado, 6 de novembro de 2010

Do sofrimento à paz...

Eu andava por um caminho atapetado da relva, e de repente ouvi uma voz atrás de mim: “Olha para ver se me reconheces!”
Voltei-me, olhei para ela, e disse: “Não consigo me lembrar do teu nome!”
Ela continuou: “Eu sou a primeira grande Dor que tiveste quando jovem”.
Os olhos dela pareciam a manhã em que o orvalho ainda paira no ar.
Fiquei em silêncio algum tempo, e depois lhe perguntei: “Perdeste aquele imenso fardo de lágrimas?”
Ela sorriu, sem responder, e eu compreendi que as suas lágrimas haviam tido Tempo de aprender a linguagem do sorriso. Depois, suspirando, acrescentou:
“Certa vez disseste que irias acariciar a tua tristeza para sempre...”
Corando, eu respondi: “Sim, mas passaram-se anos e acabei esquecendo”.
Então eu tomei as mãos dela nas minhas, e lhe disse: “Mas também tu mudaste muito”.
Ela respondeu: “O que antes era sofrimento, agora se transformou em paz.»




Rabindranath Tagore, em "Livro Estesia"
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